Convidamos todos os nossos vizinhos para a festa de inauguração da nossa casa e ficamos chocados quando todos apareceram com luvas vermelhas.
A primeira batida na porta parecia inocente. Mas conforme mais vizinhos chegavam à nossa festa de inauguração, a noite tomou um rumo estranho. Todos usavam as mesmas luvas vermelhas, como se escondessem algo à vista de todos.
Minha esposa, Regina, e eu estávamos animados por nos mudar para a casa dos nossos sonhos, uma linda vila vitoriana em um bairro pitoresco, com ruas arborizadas e vizinhos amigáveis. Tudo parecia perfeito. Organizamos a festa para conhecer melhor nossos novos vizinhos e celebrar essa nova fase.
No início, tudo correu bem. Nossa casa estava cheia de risos e conversas animadas. A Sra. Harper, nossa vizinha idosa, foi uma das primeiras a nos dar boas-vindas. “Vocês vão adorar viver aqui”, ela disse, piscando com um sorriso enigmático.
Conforme a festa avançava, comecei a perceber algo estranho. Cada vizinho usava luvas vermelhas — todas do mesmo tom. Com o calor da casa cheia, era curioso que ninguém as tirasse, nem mesmo para comer ou beber. Comentei com Regina, que também achou peculiar, mas decidimos ignorar por enquanto.
A curiosidade, no entanto, acabou vencendo. Abordei a Sra. Harper, que estava perto da mesa de aperitivos. “Essas luvas são interessantes. Há algum motivo especial para usá-las?”
Ela hesitou, lançando um olhar nervoso ao redor. “Ah, querido, você vai entender em breve”, respondeu, antes de mudar de assunto rapidamente.
Mais tarde, após a saída dos convidados, enquanto limpávamos, Regina encontrou um bilhete escondido debaixo da porta. Ele dizia:
“Bem-vindos à vizinhança. Não se esqueçam de suas luvas vermelhas. Vocês vão precisar delas em breve.”
Nós rimos, achando que poderia ser uma brincadeira. Porém, os dias seguintes trouxeram situações perturbadoras. Passos podiam ser ouvidos do lado de fora de nossas janelas à noite. Ferramentas desapareciam do quintal e reapareciam em lugares estranhos. Uma manhã, encontramos símbolos desenhados na terra ao redor da casa.
A gota d’água veio quando Regina me chamou ao quintal. “Gabby, olha isso”, ela disse, com a voz trêmula. No chão, havia um desenho grosseiro de uma mão com dedos longos e finos.
No dia seguinte, decidi confrontar a Sra. Harper. Ela parecia hesitante, mas finalmente explicou: “As luvas vermelhas são uma proteção contra a Mão dos Esquecidos, um espírito que assombra este bairro há gerações. Todos as usamos para nossa segurança.”
Eu ri, achando que era apenas uma superstição local. Regina e eu decidimos não dar importância, mas as ocorrências estranhas continuaram. Um dia, encontramos uma boneca de aparência assustadora com luvas vermelhas em nossa varanda. Isso foi o suficiente para marcarmos uma reunião com os vizinhos.
Durante a reunião, a verdade veio à tona. A Sra. Harper, com um sorriso divertido, revelou que tudo fazia parte de uma brincadeira elaborada da vizinhança. “É nossa maneira de dar as boas-vindas aos novos moradores”, ela explicou.
Apesar do susto inicial, Regina e eu não conseguimos conter o riso. Sentimo-nos aliviados e, ao mesmo tempo, acolhidos por uma comunidade que claramente sabia como se divertir.
Algumas semanas depois, organizamos um jantar de agradecimento e, dessa vez, retribuímos a brincadeira. Escondemos insetos falsos pela casa, arrancando risadas e sustos dos vizinhos.
Naquela noite, enquanto os últimos convidados se despediam, a Sra. Harper sorriu para nós. “Vocês se encaixaram perfeitamente aqui”, disse.
Regina me abraçou, suspirando aliviada. “Acho que seremos muito felizes neste lugar.”
E assim, começamos a nos sentir verdadeiramente em casa, com uma comunidade peculiar, mas cheia de calor humano. Afinal, até as tradições mais inusitadas podem se tornar o início de grandes amizades.