Histórias

Quando ouvi a filha da minha vizinha e meu marido discutindo sobre o relacionamento deles, não fiz uma cena. Em vez disso, convidei-a para nossa casa no dia seguinte.

Meu marido, Mark, e eu estávamos casados há dez anos. Dois filhos, uma hipoteca e o que eu achava ser uma vida sólida nos uniam. Claro, Mark não ajudava muito em casa. Não cozinhava, não limpava e não lidava com o caos interminável de criar os filhos.

Tudo isso ficava sob minha responsabilidade.

Cansativo? Com certeza.

Mas eu sempre repetia para mim mesma: “Somos uma equipe, Lexie.”

Exceto que, aparentemente, Mark decidiu fazer parte de um time completamente diferente.

Tudo começou com algumas sacolas de compras.

Eu tinha acabado de estacionar na garagem depois de uma exaustiva ida ao supermercado. O carro estava cheio de sacolas pesadas, e eu me preparava mentalmente para carregar tudo sozinha.

Mark, como de costume, não fez o menor esforço para ajudar.

Foi então que ouvi vozes na varanda.

Era Mark conversando com Emma, a filha de 25 anos dos nossos vizinhos, que tinha acabado de voltar para a cidade. Os pais dela estavam muito orgulhosos porque ela havia conseguido um estágio após estudar design de interiores.

Agora, Emma e Mark estavam lá, rindo como velhos amigos.

Eu quase gritei para cumprimentá-los, mas algo me segurou. Abaixei-me atrás do carro, escondida pelas sombras e pelas sacolas, e comecei a escutar.

“Não acredito que ela ainda não percebeu”, disse Emma, com uma risadinha leve que cortou o ar fresco da tarde.

Mark riu em resposta.

“Ela está tão ocupada com as crianças e a casa, Em. A Lexie mal percebe outra coisa. Além disso, ela se descuidou muito. Nem parece mais uma mulher para mim. Não tem nada a ver com você, minha princesa.”

Emma soltou uma risadinha coquete.

“Bem, você tem sorte de eu estar aqui agora. Pode me exibir o quanto quiser. E, a propósito, nem tenho fios brancos.”

Então eles se beijaram.

Eles se beijaram.

Senti uma mistura de humilhação e raiva. Meus olhos ardiam com as lágrimas, mas eu me segurei. Não gritei nem os confrontei.

Com uma calma inesperada, carreguei as sacolas e entrei pela porta dos fundos, começando a planejar meu próximo movimento.


Na manhã seguinte, levantei-me com uma serenidade surpreendente. Preparei o café da manhã de Mark como sempre: ovos fofinhos, bacon crocante e café com um toque de canela. Despedi-me dele com um beijo e um sorriso enquanto ele saía para o trabalho.

Depois, fui até a casa de Emma e bati na porta.

“Oh, oi, Lexie”, disse ela, surpresa.

“Oi, Emma”, respondi calorosamente. “Estava pensando se você poderia vir aqui amanhã à noite. Preciso da sua opinião sobre algo.”

“Opinião? Sobre o quê?”, perguntou ela, confusa.

“Quero redecorar a sala. Ouvi dizer que você estudou design de interiores e pensei que poderia me dar algumas ideias. Que tal às sete? Teremos jantar também.”

Emma, embora hesitante no início, aceitou.


Na noite seguinte, Emma chegou pontualmente, vestida para impressionar. Recebi-a com um sorriso e a convidei para entrar.

“Antes de vermos a sala, quero te mostrar algumas coisas”, disse casualmente.

Conduzi-a pela casa, explicando as responsabilidades.

“Aqui está a lava-louças. Você precisará carregá-la todas as noites porque Mark não faz isso. As roupas das crianças são lavadas aqui, mas certifique-se de separar as peças delicadas. Também deixei a lista das atividades das crianças. Terças e quintas você precisa buscá-las, mas às quartas elas estão livres.”

Emma me olhava perplexa, sua expressão perdendo o sorriso aos poucos.

“E esta é a cozinha, onde você vai preparar todas as refeições. Mark gosta do bife malpassado, mas as crianças só comem bem passado. Ah, e não espere agradecimentos; Mark não é muito educado.”

Finalmente, Emma gaguejou: “Lexie, eu… eu não me ofereci para fazer tudo isso.”

Nesse momento, Mark chegou em casa. Ele ficou pálido ao nos ver juntas.

“O que está acontecendo aqui?”, perguntou com a voz tensa.

“Estava explicando para a Emma e para os futuros sogros dela como funciona a casa”, disse com alegria.

Então, os pais de Emma chegaram à porta.

“Obrigada por virem, Anne e Howard. A filha de vocês se deu tão bem com o Mark que achei que era hora de integrá-la oficialmente à família.”

Emma tentou se justificar, mas já era tarde demais.

Virei-me para Mark.

“Eu me descuidei, não foi? Bem, agora é sua vez. Estou deixando a casa, as crianças e sua nova vida. Aproveitem!”

E, com um sorriso triunfante, fui embora, deixando o caos para trás.

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