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Após ser alvo de ataques na internet, Imane Khelif conquista vitória e faz desabafo poderoso no ringue…

No último sábado (3/8), a argelina Imane Khelif garantiu pelo menos a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 ao vencer a húngara Anna Luca Hamori nas quartas de final do peso meio-médio (66 kg) por decisão unânime (5-0). Em uma semana marcada por fake news e discursos de ódio, Khelif superou as adversidades e agora tem a chance de chegar à final se vencer a tailandesa Janjaem Suwannapheng na próxima terça-feira (6/8).

Desde o início da luta, Khelif tomou a iniciativa e desferiu golpes precisos. Hamori tentou contra-atacar, mas a argelina se mostrou estratégica e venceu o primeiro round segundo a pontuação dos cinco juízes laterais. Em um momento do combate, Khelif teria gritado: “Eu sou mulher”.

A emoção da vitória Após vencer Hamori com facilidade, Khelif foi ovacionada pelo público na Arena Paris Norte. Seu nome foi entoado continuamente, e, ao final da luta, ela não conseguiu conter as lágrimas. A emoção é um reflexo das acusações infundadas de ser transgênero feitas por figuras públicas como Donald Trump, Sergio Moro e J.K. Rowling. Ela recebeu apoio de seus treinadores ao deixar o ringue.

Em sua entrevista pós-luta, Khelif fez um desabafo: “É uma questão de dignidade e honra para todas as mulheres”. Ela acrescentou: “Todo o povo árabe me conhece há anos. Eu lutei boxe em competições internacionais por anos, e a federação internacional foi desonesta comigo. Mas eu tenho Deus comigo. Allahu Akbar”.

Contexto da polêmica A polêmica começou quando Khelif venceu a italiana Angela Carini em apenas 46 segundos em sua estreia nos Jogos. A italiana alegou que nunca havia recebido golpes tão fortes, o que gerou uma onda de ódio e boatos alimentados pela IBA (Associação Internacional de Boxe). A IBA baniu Khelif da final do Mundial de Boxe Amador de 2023 alegando que ela não atendia aos requisitos para competir entre mulheres, sem esclarecer quais testes foram realizados e mantendo o caso em sigilo.

Além disso, o COI (Comitê Olímpico Internacional), que desqualificou a IBA por falta de transparência e denúncias de corrupção, permitiu que Khelif competisse nos Jogos Olímpicos seguindo os protocolos de Tóquio 2020, onde ela competiu sem gerar polêmica ou ganhar medalhas. O COI reafirmou que Khelif cumpria os requisitos para competir, apesar de declarações contraditórias de Umar Kremlev, presidente da IBA.

Resposta da IBA e outras reações Em resposta ao conflito com o COI, a IBA anunciou que concederia a Angela Carini uma premiação equivalente à de uma medalha de ouro. A rival de Khelif, Anna Luca Hamori, também contribuiu para o ódio ao republicar uma imagem que rotulava Khelif como homem e postou uma imagem comparando uma pequena boxeadora a uma “fera musculosa”.

Em reação, o Comitê Olímpico Argelino apresentou uma queixa formal contra Hamori ao COI.

Imane Khelif é uma mulher que nunca passou por transição de gênero e representa a Argélia, um país onde a homossexualidade é punida com prisão. Influenciada pela religião muçulmana, a sociedade argelina reprime as pessoas LGBTQ+, forçando muitos a viverem de forma clandestina e impedindo a visibilidade e aceitação pública dessas identidades. A Argélia nunca admitiria uma atleta trans ou lésbica como representante nacional nos Jogos Olímpicos.